quarta-feira, 28 de abril de 2010

Lista

Eu era mais uma da lista dele, ele era a minha lista inteira, eu era a décima na pagina, ele era meu primeiro, segundo, terceiro e todo o resto, eu era letras e um beijo com gosto de cereja, ele era o usurpador da minha alma, eu era o nome, ele era o meu inteiro, enquanto eu era um parágrafo, ele era o meu livro, o livro que ele forçou o abandono da escrita, no meu bilhete um ‘te amo’ em caligrafia simples, no dele um ‘Fui... vou viver’ e em mim um fim interrompido, nele o pré-começo.

domingo, 25 de abril de 2010

A gente


Eu lhe acharia um covarde se você não tentasse, mas até ai, eu prefiro não achar nada, a gente sempre faz o que quer, é assim que vai indo e vindo, você fazendo o que quer e eu fazendo o que me cabe a fazer, contudo por que não tentar mudar tudo isso?
Vamos, jogue as suas lembranças fora, elas vão fazer chorar mesmo, e nem me diga que vai sorrir quando se lembrar das boas, porque vai sorrir e depois chorar de saudades, então nem adianta tê-las, vem comigo e passeie vendo a cidade como ela realmente é, suja, com pombos e mentirosos por todo o lado, nós também somos mentirosos, e nem liga se eu falar alguma besteira por vaidade, eu sou totalmente tola ao lado de alguém como você, a minha prudência fica guardada na gaveta quando eu tenho que caminhar por ai, se quiser, a gente ouve um rock ou uma musica clássica, combina com essa cidade antiga imunda, com esses loucos de olhos vermelhos e com esse clima de correria que se instala, abre um pouco a sua narina e respira o resto de ar puro que está aqui, vai lhe fazer bem, você precisa se recuperar de tudo o que você tentou ser e que não conseguiu.
Como a vida é engraçada, a gente tem tudo e não tem nada, a gente sempre quer ser alguém melhor, e a gente nunca consegue alcançar isso, a gente tenta, tenta e se consegue fica descontente, a gente sempre quer o melhor para a gente, mas nem é capaz de ver que o melhor pode estar ao nosso lado, a gente quer tanto e não quer nada ao mesmo tempo, a gente sente, ri, chora e a gente se confunde, para, continua, envelhece e nunca vê diferença em nada, a gente compara, mas não muda, a gente fala e nem sabe o porquê falamos, nós somos confusos até para nós mesmos, e isso é o que nos torna engraçados.
Às vezes a gente se acha um merda, mas quantas pessoas queriam ser iguais a gente e a gente nem imagina, e nem eles imaginam que a gente se joga tão para baixo, você já se perguntou quantas pessoas pensam em você quando vão dormir? Eu penso sempre nisso e eu sempre penso em você também.

Quem diria?

Quem diria que eu toda louca, ovelha negra, sem papas na língua, com um grande dicionário de gírias e palavrões, sempre com um livro de romance barato sacana nas mãos e você, toda certinha, ovelha branca, com um dialogo calmo e com a bíblia em mãos, nos tornaríamos amigas, assim como somos, tortas, certas e loucas, daquelas que entende o silencio da outra e a alegria de um suspirar, que sabe quando a outra está triste na escrita e que entende fotos que não dizem nada para alguns? Quem diria que uma menina com sonhos de artista louco, se daria tão bem com uma menina tão objetiva e detalhista como um contador? Quem diria que por causa de uma conversa chata sobre cálculos matemáticos seriamos amigas de dividir tormentas, felicidades e muita caminhada pela cidade em torno de nada? É, é assim que a gente é e seremos, e dane-se o que alguém diria ou dira, o que importa é a nossa amizade.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Certezas.

Certeza de dormir sendo esquecida a cada segundo, de no riso de alguém não ter um vestígio do teu, sendo que já se teve, de procurar uma vã promessa em baús antigos, de chorar na alma sem ir para os olhos e amarelar um sorriso, a certeza de que ninguém vai ligar, de que ninguém vai lembrar a sua idade, o seu tempo, o seu respirar, toda a certeza de palavras mentirosas, de pessoas medrosas, de vidas que deram errado, mas que viveram a certeza do tropeçar na porta, do fio de voz e do vento quente e frio, a certeza do amor escondido nos lábios de alguém idiota, a certeza dos dias passados e dos acertos forjados, a certeza de uma euforia, de um sol, a certeza da mudança da lagarta, do morrer da flor, do morrer da dor, do morrer do amor, do morrer da eternidade, da juventude, da melhor idade, a certeza de um eu e a certeza de um você, e a incerteza do nós, do sempre, do infinito da vida.